19/04/2018

a respiração do silêncio [i]


o viajante entreabriu a porta. a pouca luz que entrou contornou lentamente os objetos permitindo-lhe vislumbrar um pequeno banco em frente ao crepitar de umas chamas já fracas.
[não necessito de mais.]
abriu a porta apenas o suficiente para que corpo cansado passasse.
respirou o silêncio.
da bolsa tirou o pedaço de pão, as azeitonas e uma pequena navalha que lhe fora dada pelo pai no dia em que partira.
o cais de madeira onde pela madrugada, por entre a neblina do rio e o gazear das garças, o abraçara pela última vez, antes de embarcar, estava já longe.
[estaria ele bem?]
colocou um pedaço de pão à boca e de olhos postos nas chamas deixou que também a mente se deixasse invadir pelo silêncio.