se tudo fosse uma bola de luz,
que aos poucos endurecesse, depressa a luz se apagaria. há que partir [a bola] para que a
luz volte a brilhar. a criação aprisiona, a destruição solta. a alma só é livre quando aprisionada com (sentimento).
[...]
[...]
que profano, olhar os pés sujos
de barro descendo a escadaria branca de mármore que no meio do deserto se abriu
rasgando a terra quente. primeiro o susto depois o espanto fechado em silencio,
o fim da peregrinação, lenta de pés sujos de barro descendo ao ventre da terra. tanto branco,
tanta luz, tantos pés.
[ele entre eles]
de olhos postos no branco que em
tempos foi água gotejada (tão lentamente) e o que da água se fez pedra para receber o
fogo que lhe moldou as entranhas (tão lentamente) arrefecidas para agora receber de branco os seus olhos, os seus pés sujos de barro e o seu querer chegar ao fundo.
[ele entre eles]
muitos. tantos
e a árvore sussurrou-lhe
[no princípio era o Verbo e do
verbo, que era som em propagação, nasceu a intenção.
a intenção, que era boa, gerou a
matéria por pressão.
a matéria é o canal que, em
constante alerta, recebe a intenção da criação.
assim nasce o artesão
a mão reduzida quase a dígito com
o mero propósito da pressão, foi em tempos toda ela sensação para que a matéria
inerte incorporasse a essência (a alma).
o artesão tem como propósito materializar
a essência (a alma)
mas a criação deixa de ser sua assim
que a dá por concluída,pois desprendendo-se do criador liberta-se para dignificar o seu
propósito.
o artesão deu-lhe
um propósito por criação e uma essência (a alma) por emanação.]
o viajante ouviu e em silêncio
sentou-se demoradamente debaixo da sua imensa copa branca de luz.
do alforge de pele tirou a navalha que lentamente acariciou com a ponta dos dedos e pela
primeira vez, sentiu o beijo do seu pai.